Não foi há muito tempo. Escapei-me do meu conforto, simultaneamente peguei no livro (aquele que actualmente reside na mesa de cabeceira) e sentei-me perto do meu pai. Sabia que não seria duradouro; que os olhos dele, mesmo com os óculos (pouco apropriados para a leitura), cansar-se-iam em minutos, mas o impulso foi mais forte e as palavras fugiram de mim num tom inocente ao pedir-lhe que lesse para mim. Podia afirmar que tentei reviver um daqueles episódios típicos de infância, onde o pai aconchega a filha no seu abrigo de cobertores e suavemente começa a leitura de (mais) uma história de encantar para que os pesadelos não tomem lugar nos sonhos da criança. Eu podia, mas a verdade é que não tenho memória de semelhante. Naquele momento, bateu-me forte o vazio, o arrependimento, o insuficiente. De muitas maneiras, sinto que não me entreguei de alma ao meu eu criança; que não preenchi ou fiz o suficiente. Tenho vindo a acreditar que toda esta insuficiência surge do facto de nunca ter feito amigos de rua ou a nunca ter esfolado os joelhos por mera distracção. No entanto, também essa crença não é suficiente. Não me culpo; não posso culpar alguém genuíno que sonhava um dia ter uma dúzia de cavalos brancos. Então, sem razão aparente, sentei-me perto do meu pai e pedi-lhe que lesse para mim. Não foi há muito tempo. Não foram princesas, nem amores bizarros à primeira vista. Foram linhas concisas de dois vampiros recém-criados e a sua habilidade para nadar nas profundezas. E, por idiota que pareça, durante aqueles minutos, foi incrivelmente suficiente.
Suficiente, suficiente, suficiente.
"For what it’s worth: it’s never too late or, in my case, too early to be whoever you want to be. There’s no time limit, stop whenever you want. You can change or stay the same, there are no rules to this thing. We can make the best or the worst of it. I hope you make the best of it."
∞