Odeio esperar pelo autocarro. Se há em mim muita paciência, parece que sobra pouca para este tipo de situação. Como tal, enquanto bufava pela demora, fez-se ouvir um doce e inocente Joaaana, Joaaana. Não era comigo, mas a curiosidade bateu mais forte e não resisti em procurar a fonte sonora. Quando o cântico se fez novamente ouvir, gritando incessantemente pela Joana, Joana, descobri uma menina pequenina, de caracóis largos, em uma das varandas do prédio mais próximo. Olhei-a e lancei-lhe um sorriso. Tão rapidamente como o recebeu, retribuiu-me com uma gargalhada delicada e envergonhada. Voltei a dirigir o olhar para a estrada, já disse que odeio esperar pelo autocarro? Não foi longo o silêncio. Novamente, o meu aparelho auditivo foi preenchido por um Joana, Joana. Observei a pequena de soslaio e não me mexi. Foi o suficiente para que a sua voz se tornasse impaciente e se repetisse, meiga como só as crianças sabem. Foi aí que percebi que, possivelmente, eu era a Joana. Repeti a acção inicial e olhei-a. Quando me percebeu, encolheu-se e sorriu. Não sei durante quanto tempo o processo Joana, Joana demorou, nem quantas vezes repetimos a mesma cena, mas foi o suficiente para uma dentada no coração. Odeio esperar pelo autocarro. Fui Joana, foi excepção.
"For what it’s worth: it’s never too late or, in my case, too early to be whoever you want to be. There’s no time limit, stop whenever you want. You can change or stay the same, there are no rules to this thing. We can make the best or the worst of it. I hope you make the best of it."
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